segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

EM MAIO KAMAPHEW TAWÁ EM BELÉM

Revista baiana dá a fala ao Rastafari Kamapheu Tawá e traz a tona as controvérsias da questão da Ganja no Brasil. Para ilustrar o avanço da luta que o Rastafari, manifestação cultural e religiosa, vem alcançando no Brasil, sobretudo no estado da Bahia, apresentamos em nossa pauta esta excelente matéria publicada na revista soteropolitana Metrópole. Um caderno editorial sério e de distribuição gratuita, que tratou a polêmica em torno do uso de substâncias psicoativas em cultos de religiões xamânicas, como é o caso da Ganja para o Rastafari, de forma respeitosa, elucidativa e contundente. Através do artigo podemos perceber que a questão em torno do uso do entendimento sobre o uso da erva, ainda criminalizada e marginalizada no Brasil, já conta com apoio e adesão de inúmeras entidades civis organizadas, personalidades públicas, e comunidade científica. Mais uma vez o movimento Rastafari baiano prova que seja coletivamente, ou pela luta e militância individual de cada um de seus seguidores Rastafari, é possível estabelecer um diálogo perseverante e lúcido no propósito de chegarmos a uma definitiva solução, para o já tardio e fora de tempo, preconceito para com o uso medicinal, terapêutico e religioso da cannabis sativa. Deixe Acender Se o chá da UDV (União do Vegetal) é liberado, por que a maconha dos Rastafais não? Desde 1996, quando o Conselho Federal de Entorpecentes (Confen) liberou o uso ritualístico das plantas alucinógenas utilizadas pelos adeptos de religiões de origem indígena, os seguidores da religião Rastafari, que usam a "maconha" como instrumento de culto religioso, aguardam o mesmo privilégio. À época, o Confen, em pouco mais de dois meses, organizou um comitê interdisciplinar de pesquisa - composto por juristas, psiquiatras, psicólogos, sociólogos e antropólogos - que analisou o contexto do uso do chá de daime e retiraram o vegetal da lista de drogas ilícitas do Ministério da Saúde.21 anos depois, os Rastafaris aguardam do Confen o mesmo tratamento. "Existe a forma Rastafari de usar (maconha) e a forma que as outras pessoas usam" , explica Kamarphew Tawá, sobre a utilização da cannabis sativa dentro do movimento que Bob Marley ajudou a popularizar com sua música. O cantor e líder da Associação Cultural Aspiral do Reggae (Acareggae), localizada no terceiro andar de um velho casarão no Pelourinho (salvador/BH), fala com desenvoltura sobre o histórico de segregação sofrido pelos adeptos da doutrina originária da África. Na cultura Rastafari a utilização da maconha é feita de forma distinta do que se vê por aí. A começar pelo plantio da erva, que é algo de fundamental importância no culto. É o contato com a terra, e a terra é Jah (Deus), é o contato com Jah", elucida o Rastaman. A ganja - como chamam a cannabis - utilizada no ritual rasta deve ser a mais pura possível, de preferência cultivada pelos próprios seguidores do movimento. Tawá lembra que os adeptos da filosofia Rastafari não consomem outro tipo de substância psicoativa ou considerada droga - lícita ou não. "Nem mesmo haxixe (derivado concentrado da maconha) a gente usa", esclarece. Num culto semelhante ao rastafariano, realizado pelo união do vegetal (UDV) e pelo Santo Daime, ambas as religiões de origem xamânica, também se faz uso de uma substância psicoativa ou enteogênica em suas celebrações. Trata-se da ayahuasca - nome de origem quechá que significa "cipó dos espíritos". Conhecida também como vegetal, daime ou, simplesmente, hoasca, a bebida sacramental é feita de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis Caapi (chamado pelos sectários da UDV de "mariri" e pelos adeptos do Santo Daime de "jagubi") e as folhas do Psicortia Viridis (entre os udvistas conhecida como "chacrona" e pelos daimistas apelidade de "rainha"). A infusão, que náo é proibida, demora horas para ficar pronta, e é considerada uma das realizações etnobotânicas mais significativas das culturas indígenas. Na cultura Rastafari e nas religiões ayahuasqueiras, o objetivo da utilização da substância enteogênicas é o mesmo, segundo o professorEdward Mcrae, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA (Universidade Federal da Bahia). "Todas, a seus modos, buscam conectar-se com o divino", afirma. Com doutoramento em Antropologia pela USP (Universidade de São Paulo), onde estudou a utilização de substâncias psicoativas dentro das religiões, McRae já assinou manifesto defedendo o uso da maconha para fins medicinais, e é eminentemente a favor de sua utilização cerimonial. "Eu considero a proibição uma afronta ao direito religioso das pessoas. A gente tem que respeitar o sentimento religioso de cada um. Ele daz parte da humanidade, conclui. Apesar dos semelhantes propósitos e da origem natural comum das substâncias utilizadas nos cultos citados, a forma como a Justiça e a sociedade brasileira tratam cada uma das situações é bem diferente. Enquanto aos rastas nunca foi dada a chance de provar que a utilização da ganja em seus rituais tem um fim estritamente religioso, aos ayahuasqueiros, quando foi necessário, tal oportunidade não tardou em ser concedida. Em 1985, quando a Divisão de Medicamentos do Ministério da Saúde (Dimed) incluiu, em caráter proibitivo, o Banisteriopsis caapo na lista de substâncias entorpecentes, udvistas, daimistas e demais seitas que faziam uso cerimonial da substância recorreram ao Confen. Pediram que o órgão examinasse o uso ritual do cipó mariri/jagubi, o que foi prontamente atendido. O uso da ayahuasca doi liberado, porém com a recomendação de que seu uso seja restrito aos rituais sagrados, advertindo o Confn ainda, através da Deliberação 24.08.92, um possível reexame da matéria cso surjam fatos novos a sua utilização. Diferentemente da maconha, encontrada com relativa facilidade pelas ruas da cidade, as substâncias da ayahuasca demandaram cuidadosa apuração da reportagem para chegar à sua única referência fora dos templos da UDV: a barraquinha de folhas e ervas Filha Donas das Águas, mantida há 20 anos na Feira de São Joaquim. Para o professor McRae, somente a UDV faz plantio da folha e do cipó alucinógenos na Bahia. "Normalmente as pessoas têm de trazer lá da Amazônia. Aqui, só a UDV faz o plantio, mas eles são extremamente cuidadosos, plantam só para o uso deles mesmos", acredita. Enquanto isso, independentemente do modo como conseguem a cannabis, o consumo da erva pelos rastamen em seus rituais religiosos continua ilegal. Engana-se quem pensa que o motivo para os adeptos do rastafarianismo não terem os mesmos direitos dos ayahuasqueiros é a falta de representatividade político-social dos rastas.A sétima edição do seminário "QUal a importância de ser Rastafari na Bahia", ocorrido em maio, prova isso. O evento teve apoio de sindicatos e vereadores - entre eles, o presidente da Câmara de Salvador, Valdenor Cardoso - e contou com patrocínio do Governo Federal e da Prefeitura de Salvador. Ao que parece, o que pesa mesmo nesta questão pe o preconceito de uma sociedade hipócrita que admite: tomar um chá para falar com Deu, pode. Fumar unzinho para falar com Jah, não. Fonte:reggaemovimento.com

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